O Breaking Bad do Snapchat

Fabio Ribeiro
4 min readFeb 5, 2021

Vince Gilligan era um promissor diretor e roteirista em 2008, com boas participações em séries renomadas, mas sem um trabalho autoral de peso.

Àquela época já se iniciava um certo frenesi em torno das séries de TV, o que provocou o início de uma avalanche, com a chegada de centenas de novos shows e, por consequência, a ascensão dos serviços de streaming, tendo a Netflix como emblema maior.

Pois bem.

Vince era um destes que tinha uma ideia e dedicou-se a rodar o mercado, fazendo o pitch de seu produto.

A premissa não tinha nada de espetacular.

A história de um homem de meia-idade, professor de química em uma escola de subúrbio, e que resumia em si o conjunto de estereótipos do fracasso americano — dívidas infindáveis, a pressão de um sucesso que nunca chegou e a indiferença da própria família. Soma-se a isso um diagnóstico fatalista de câncer de pulmão que seria o plot twist na transformação de um cidadão pacato num insuspeito e inesperado traficante de metanfetamina.

Você compraria essa ideia?

Showtime, HBO, FOX não compraram. Aliás, sequer ouviram. Outras tantas também recusaram, até que a AMC topou rodar um piloto.

O resto é história!

Breaking Bad é considerada uma das 3 melhores séries de todos os tempos, não importa o ranking que você consulte.

Evitarei a discussão sobre o mérito artístico, pois não é o foco desse post.

Vou me ater a um fato prosaico, mas que afeta, já nos afetou ou vai nos afetar em algum momento da vida.

Vince quase desistiu da série quando descobriu Weeds, uma série de sucesso moderado, mas que tinha uma premissa muito parecida com Breaking Bad (substitua metanfetamina por maconha, um homem por uma mulher).

O fato de sua ideia não parecer inédita e autoral o suficiente, o fez questionar se deveria seguir adiante com o show, mesmo após o aval da emissora.

O roteirista, inclusive, chegou a dizer que se soubesse dessa semelhança antes de fazer o pitch, provavelmente teria desistido.

Já aconteceu com você? Provavelmente.

É natural um sentimento de estômago revirado e aquela reflexão sobre uma certa incapacidade de fazer algo novo, que não tenha sido pensado ainda, como se tudo já existisse no mundo, como se não houvesse espaço para dois corpos na “física dos negócios”.

É claro que existe, como é claro que isso não deveria nos lançar num quadro depressivo.

De fato, é realmente pouco provável que qualquer ideia sua seja original, mas o que importa é ~clichê dos clichês~ a forma como você executa, e nesse aspecto, Vince Gilligan é um dos maiores gênios da TV, ao ponto de Weeds ter sido relegada ao esquecimento completo.

Pra fechar, e pra dar um “break” nessa “bad”, inspire-se com o caso do Snapchat.

Todo esse conceito de “stories” foi criado por eles, numa abordagem original e que logo virou febre, ao ponto de despertar a atenção do Facebook que, quando não conseguiu comprá-los, resolveu por copiar descaradamente o mesmo argumento, criando uma “feature” idêntica dentro do Instagram.

A startup teve de assistir calada o sucesso do seu “concorrente” e, de quebra, observou o surgimento de novas cepas, por assim dizer, como é o caso do TikTok.

Aliás, o Snapchat, pode-se dizer, é o TikTok antes do TikTok.

Pois agora, anos depois, refeitos do golpe e entendendo melhor como se joga o jogo, coube ao Snap (seu atual nome) copiar a sua própria cria, no caso o TikTok, ao lançar uma plataforma própria de vídeos curtos, chamada Spotlight, cuja estratégia agressiva de remunerar criadores de conteúdos tem levado a a um fluxo assombroso de novos assinantes mensais.

Ou seja, tem espaço no mercado pra concorrência, claro que tem, sempre tem, como demonstra o Snapchat, cujo novo negócio ainda é pequeno se comparado ao TikTok, embora os números, para este estágio inicial, sejam expressivos.

Já são 100 milhões de assinantes e que produzem 175.000 horas de vídeos por dia, números que alavancaram o faturamento do Snapchat, surpreendendo até os analistas de mercado mais otimistas.

Portanto, inspirem-se.

Originalidade é algo muito raro, assim como também é rara a capacidade de executar uma ideia com competência, sendo que uma coisa não sobrevive sem a outra.

Bom final de semana pra vocês

veja aqui o link com a história do snapchat.

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